quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Loser



As eleições acabaram, mas o gosto amargo da derrota ainda está na minha boca. Como nas vezes em que não só se engole, mas também se mastiga uma mosca (das grandes) que por acidente vem parar entre os dentes, em vacilo de uma boca aberta.
Não, não sou partidário do PSDB, nem do PT, nem de qualquer outro partido. E nada eu ganharia se qualquer desses partidos, coligados ou não, vencesse ou perdesse. Sou do povo, e o povo sou eu. Se tivesse que ser de algum partido, só poderia ser do partido que nunca ganhou uma eleição, nem ganhará coisa alguma. Da agremiação política dos que não negociam cargos, não recebem títulos honoríficos, nem são convidados a jantares de honra nos paços públicos ou nas residências de homens de influência. Apenas troco meu apoio por dentaduras, sacos de cimento, alguns trocados, e talvez a quitação de um talão de água ou luz. Aliás, isso eu faço muito bem: barganhar a minha dignidade em troca de um roubo futuro por parte dos que se utilizam do meu poder para me amordaçar e acossar.
Pobre de mim, o povo. Zé Coitér: aquele que sempre pagou a conta. Aquele que nunca teve saúde pública quando precisava. Aquele que teve de estudar numa escola do Estado, onde não há ensino, mas mesmo assim me são destinadas, por direito, vagas em universidade pública, para que possamos dizer que a escola do Estado também aprova no vestibular. Aquele que sustenta o luxo de muitos a troco de fome.
Apesar do gosto amargo na boca, e de mais quatro anos de mentiras, estou feliz: tirei fotos com o Lula.
Aliás, ainda bem que o carnaval está chegando...

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